Querido Mundo Baleias.
No final de semana do dia 06 de maio último, uma semana após a Maratona da Linha Verde em Belo Horizonte, Elis, Ricardo Hoffmann e Cláudio Dundes comemoravam o aniversário de Lana Gomes em Arraial do Cabo, na K21, fazendo uma festa incrível que foi narrada nos blogs como uma aventura imperdível.
No sábado, os Baleias remanescentes de BH no Projeto Comrades viajavam, na companhia da 1ª dama Baleias Zilda Xavier, para correr a Maratona de Brasília, onde tentaríamos fazer um treino de 55 kms aproveitando os 42.195, da maratona da Capital Federal.
De Recife saia Marinês Melo, também remanescente do Projeto Comrades e guerreira de primeira.
Tinil, de Goiânia, que sofreu com o joelho em Belo Horizonte para completar a dura e problemática maratona da Linha Verde e do Japão na companhia dos amigos decidiu poupar-se na tentativa, ainda, de salvar o Projeto Comrades.
Já em Brasília reunimo-nos todos e logo encontramos com Borges e sua simpática corredora. Borges também esteve em Belo Horizonte para prestigiar nossa cidade na maratona da semana anterior. Agradecemos ao amigo o carinho e como corredores de BH pedimos desculpas pelos erros lá anotados.
A nossa passagem por Brasília seria tão rápida que o check-in da volta foi feito logo na chegada.
A ideia de aproveitar a estrutura da prova de Brasília para um longo de 55 kms surgiu a partir do preço das passagens na casa dos 69 reais e a gentileza impar de minha irmã, Tatau Godinho, grande incentivadora e mecenas Baleias, que nos recebeu os 5 em sua casa durante esse período e ainda comprou mamão, banana e gatorade à vontade para nós.
Baleias casual passeando num shopping para buscar o kit numa loja de roupas esportivas. Camisa muito boa no kit.
Analisando o Plano Piloto para verificar os passeios possíveis.
Entramos no ônibus turístico. Nada mais Baleias do que os ônibus de turismo com cadeiras na parte de cima. É bom demais e dá uma visão geral da cidade permitindo descer nos locais mais significativos.
Zilda aproveita mais uma oportunidade que o Mundo Baleias lhe concedeu depois da cessão de Wu. Finalmente conhece Brasilia de JK e Niemeyer.
Baleias não abrem mão da janelinha nos passeios, mesmo que isso implique em falta de companhia.
Apreciando a residência oficial da Presidenta do Brasil.
Na Torre de Brasília. Quem nos conhece sabe que subimos sempre nas torres das cidades que visitamos e as têm.
No retorno para nossa residência temporária na Capital Federal um time Baleias praticando esporte diverso da corrida.
Recolhemo-nos cedo pois sairíamos duas horas antes da largada para fazer 13 kms e com isso completar os 55.
Nossa saída seria às 05 hs. Antes disso eu já estava preparado, calçado com minhas meias de mulher e fazendo onda também com óculos de mulher.
A recuperação de minha panturrilha tinha sido muito boa. Correr BH revelou-se uma decisão acertada. Os 55 de Brasília, não. Eu deveria ter feito somente a maratona, contarei a seguir.
A prova de Brasília, que eu e Wu havíamos feito em 2009, agora seria corrida em percurso de uma volta só, o que também nos animou para vir tentar o treino aqui. Acho a Maratona de Brasília uma prova muito boa, a cidade para passeio perfeita, mas não há meio dessa prova crescer, não sei porque. Só pode ser o medo da secura do ar.
O não crescimento da prova a torna solitária por quase todos os trechos. Com essa mudança do percurso aproveita-se o Eixão que fica fechado nas manhãs de domingo para diversas atividades de lazer. Do km 18 ao 30 a prova é nesse meio, não dando para perceber o que é corredor e o que é corrida na manhã de lazer no Eixão.
Wu já estava pronto muito tempo antes.
Neto dava os últimos ajustes.
Às 05 para as 05 da manhã saímos de casa. Wu novamente adotando o estilo "o moita" nas fotografias. A foto, de disparo automático, dá uma ideia da confusão que fizemos na casa de minha estimada irmã.
Esse foi o último registro da máquina oficial Baleias na maratona de Brasília. Depois da prova foi tudo tão atrasado que não foi mais possível. Para exemplo, o avião de Marinês era às 15 horas e o taxi que a trouxe em casa ficou esperando para levá-la no aeroporto. Todos se atrasaram por causa de mim.
Saímos em direção à largada da prova e fizemos 13 kms antes. Minha perna comportou-se muito bem nesse pedaço anterior. Encontramos Paulo Gustavo da Acorja que faria 13 kms antes e 20 depois da prova. Encontramos também Maria José da Equipe Tavares de São Paulo, nossa amiga ultra, que também estará na Comrades.
Terminamos nossos 13 kms faltando 10 minutos para a largada. Fui o último a usar o banheiro e com isso me atrasei sendo dada a largada quando eu saia do mesmo. Burramente, numa tentativa abrupta de um pique para atravessar uma grade, a panturrilha deu uma fincada e tive que começar a prova mancando.
Wu e Ismael Neto já tinham sumido e Marinês, gentilmente, me esperou chegar à linha de largada.
Começamos lentamente e prosseguimos juntos por 23 kms quando Marinês seguiu para realizar sua prova em seu ritmo. Eu ia bem, lento, mas bem. A perna não doia, a panturrilha estava dura e acho que corria mancando, compensando o problema, como me explicou depois o fisioterapeuta.
No km 15 da maratona encontramos com Ismael Neto parado por causa do joelho. Avisou-nos que iria parar. A decisão já estava tomada e a carona arranjada então nada havia a ser feito.
Wu e Marinês fizeram a prova muito bem, Wu terminando em 4.47 hs e Marinês em 5.12 hs. Eu, no km 32 da maratona, que era o km 45 de nosso treino, senti uma dor nova na mesma perna combalida, abaixo da panturrilha lesionada.
A cada momento a perna doía mais. Andei a primeira vez para ver se alterava alguma coisa e para minha surpresa não melhorava nada. A dúvida passou a ser o tema comigo mesmo.
Paro ou não paro? Desisto para não machucar muito e ainda poder recuperar para a Comrades dalí a menos de 30 dias?
Outros dilemas me incomodavam, como por exemplo, porque eu não fiz somente a maratona já que tudo deu certo em Belo Horizonte? Porque topar fazer mais do que os 42 kms naquele final de semana se já estava com problemas na perna?
Mas a resposta era fácil: fiz porque tinha que treinar para a Comrades e sem os longões eu não teria qualquer chance.
E a resposta para mim mesmo sobre o sofrimento nos 10 kms finais da maratona de Brasília veio também.
Parar o c......!!! Vou terminar Brasília e depois ver o quer resta para a Comrades. O risco alí seria de duas provas entaladas na garganta, a própria Comrades que é um risco desde a inscrição e Brasília, se desistisse por prudência.
Não sou habilitado mentalmente a desistir de uma prova e realmente não me arrasa ultrapassar as 5 horas que a minha estimada Contra-Relógio resolveu estabelecer como o limite das pessoas úteis ao mundo da corrida. Dessa vez eu havia olhado o regulamento e eram 6 hs à minha disposição. Fiz as contas, eu tinha tempo. Segui sentindo dor, mas a dor maior era o medo (que se mantém) de não conseguir a Comrades. Fui encontrando aqui e ali uns e outros capengas como eu.
No km 41 percebo Ismael Neto vindo em minha direção. Em Belo Horizonte havia sido buscado por Marinês Melo, em Brasília, Ismael Neto me buscava. Embora a sensação de "o Mulambo da Turma" tenha se apossado de mim, emocionei-me com o amigo que ao invés de ir embora mais cedo ocupou-se de vir saber de mim que tanto demorava. Tive muita dificuldade de segurar um certo soluço de emoção contida. Numa abordagem multidisciplinar penso que aquelas meias de mulher têm me causado alguma confusão.
Cheguei em 5.45 hs e nem pensei em comer o belo almoço de massas colocado à disposição dos corredores. Aliás, prefiro a foto entregue na chegada nos anos anteriores do que a novidade do almoço. Queria ir embora para colocar gelo em minha panturrilha que estava muito inchada. Eu andava com dificuldade e com muita dor, puxando a perna meio de lado.
Ganhei um biscoito japonês do gentil amigo Carlos Hideaki e procuramos um taxi porque o horário apertava.
Cheguei na casa de minha irmã, peguei uma bolsa de gelo e coloquei direto na panturrilha porque seu tamanho me desesperava.
Todos prontos, deixamos um bilhete de agradecimento para minha irmã, deixei para ela o livro Capitu, Memórias Póstumas, que recebi de Ricardo Hoffmann dentro do Projeto Baleias colocando a literatura para correr e seguimos de volta para BH. Marinês já havia seguido mais cedo com o mesmo taxi que a trouxera, conforme disse alhures.
Chegando em Belo Horizonte, na segunda, fui atrás do fisioterapeuta que me acompanha desde 2007, por ocasião de uma fasciite plantar. Ele me recomendou outra fisoterapeuta para atuar diretamente no músculo da panturrilha, pois eu havia desenvolvido duas lesões, a antiga, da época pré-maratona de Belo Horizonte e a nova, no tendão logo abaixo da panturrilha, que ocorreu pela compensação no pisar.
Portanto, desde então estou em tratamento com dois fisioterapeutas e tomando medicação antiinflamatória e, para tentar não perder o condicionamento, fazendo bicicleta ergométrica todos os dias numa academia ao lado da casa do meu pai.
O gelo que coloquei em Brasilia me queimou a pele. Na segunda à noite, logo que voltei de BSB, eu já fui à nova fisioterapeuta, que disse não poder manipular a panturrilha por causa do queimado.
Disse a ela que a prioridade era a lesão panturrilha e sua solução e que não esquentasse a cabeça com a queimadura. Assim, a manipulação para tirar os nódulos do músculo resultou em três feridas exatamente no local onde a panturilha está ferrada.
E como a gente deve ter cuidado ao reclamar porque as coisas podem piorar, as feridas infeccionaram se recusando a fechar.
E agora estou tomando também antibiótico (7 dias, o último comprimido será no avião para a África do Sul) e passando uma pomada duas vezes ao dia com a recomendação de não molhar o local, evitando colocar o gelo. Eu falei com a médica dermatologista que minha panturrilha tem me assombrado tanto que assumiu uma personalidade. Não parece uma cara meio fantasmagórica e caolha?
De tudo isso uma lição: não há dúvida de que uma situação difícil pode piorar!
Na quinta-feira embarcamos para a Comrades com um propósito: fugir da van o máximo que puder. Como já disse nesse blog, de uma combinação com Wu, só entro na van obrigado. Tendo chance de conseguir completar nas 12 horas, agarrado estou nela.
Abraço a todos e desculpem pela foto da cara da minha panturrilha, é feia, mas tem estado tanto comigo nesses últimos tempos que tô até me afeiçoando.
Miguel Delgado.
14 comentários:
Baleias de AÇO, não é possivel, depois da Linha Verde, Brasilia, ufa!!! E agora que venhas Comrades pra voces amigos...Felicidades na África do Sul.
toledo
Miguel, de fato, sempre pode ser pior! Confere aqui http://emporiododom.blogspot.com.br/2012/03/poderia-ser-pior.html
Se tivesse mais duas feridas na batata, diria que era uma arte em homenagem ao Cruzeiro. Por hora, está com as 3 marias. Ou seja, está abençoado para a Comrades!
Vai pra cima Gordão! E traga muitas histórias e um imã para mim!
Miguel, já tive uma panturrilha dessas, não é privilégio seu, na Comrades acho que em que ir até o limite só, mais não, se o limite não for no 89k é saber que fez o melhor.
Miguel,
Adorei a abordagem “multidisciplinar” para falar das inclinações de gênero que te atormentam.
Aviso que as duas últimas lições by Miguel Delgado estão sendo praticadas: 1) Tudo pode piorar e 2) Todo ser humano mente. A primeira nos ajuda a entender o mundo e a segunda a entender as pessoas. Precisamos escrever uma fábula BALEIAS para deixar essas lições registradas para as futuras gerações.
Meu amigo, parabéns por tanta coragem e por ser persistente. Muitos já teriam desistido na primeira barreira. Se a avião não cair no Atlântico, a Comrades vai ser fichinha.
Grande abraço e sucesso a todos BELEIAS na África do Sul.
Gilmar
Oi Miguelito,
KKKKKKK...lendo o seu relato tive certeza que sou a Baleias mais lenta de todos os tempos.
Vc mesmo machucado e já tendo feito 13 km fechou a maratona num tempo menor que eu fiz aqui em Ctba.
Tenho certeza que a van não precisará te recolher. Vai com fé que tudo dará certo.
Bjos,
Dani
correndoemagrecendo.blogspot.com
meus queridos amigos guerreiros!
ultramaratona é assim mesmo, começa bem antes, antes mesmo da largada... começa nos treinos, nas superações e pequenas conquistas diárias...
o sentido disso tudo, dos longões, da superação da dor e insegurança, é preparar o espírito pro grande desafio que ele irá conquistar!
aos poucos vocês foram construindo a força das pernas e da alma, e é essa força que os levará até a linha de chegada!
é a batalha dura que valoriza a conquista!
creiam: a linha de chegada existe;)
um abraço bem apertado!
vou ficar soprando muita energia boa pra vocês:)
http://elismc.blogpsot.com
Não virarás maricas, jamais, porque tem que ser macho pra desabafar num blogue até então só feito de alegres louvores.
Quem te tinha apreço, agora te ama. Se vc não chora eu choro... sou o chorador Baleias oficial!
Volte vivo!
Miguel.
Estou convicto que você conseguirá concluir a prova sem embarcar no "cata osso". Basta não se inspirar na seleção brasileira em 2010 para que a moedinha venha pendurada no peito.
Desejo, sinceramente, todo sucesso nesta grande empreitada.
Até a volta.
Miguel vc é guerreiro e eu reclamando da minha coxa, que agora insiste em doer. Cuide-se e estou na expectativa do seu regresso de Comrades.
Sei que vai botar para quebrar lá. Boa prova e boa viagem!!!!
Abração
Uau! Boa sorte! E mandem lembranças pro Jacob Zuma que eu soube que se casou pela sexta vez há alguns dias.
Cuida dessa perna!
Boa viagem e até o Rio!
Sorte grande Miguel. Sua panturrilha vai precisar. Boa viagem. Vou estar de molho, mas atenta a tudo. Um cheiro. Mariana
Olá! Sou de BH e quero saber se posso fazer parte do grupo de corrida Baleias. Um abraço!
Grande amigo de longa data Miguel, sempre soube de sua determinação, desde os nossos tempos de Kart indoor quando chegávamos em ultimo mas não desistíamos. Neste momento dizer para ter juízo seria uma grande bobagem, pois é a única coisa que não poderá ter muito, mas pelo menos um pouquinho, acho que vale a pena... apenas o suficiente para enfrentar este grande desafio sem ultrapassar o que você mesmo está chamando de limite... Se depender da energia positiva que será enviada por esta grande família esportiva chamada EQUIPE BALEIAS com certeza vocês irão concluir o desafio. Mas se acontecer de não cruzarem a linha de chegada dentro do tempo, saibam que desde já, são motivo de orgulho para todos nós!!!
Parabéns pela ótima performance, mesmo lesionado, que teve em Brasília. Eu, por bem menos do que aconteceu com você, já tinha desistido lá no km 38 em Assunção ano passado.
Você é um símbolo de motivação e inspiração pra todos nós.
Grande sucesso na Comrades. Sei que você vai se sair muito bem e vai cruzar aquela linha de chegada com menos de 11 horas de batalha e com um sorrisão enorme no rosto. E caso isso não aconteça, assino em baixo no que o Carlos Henrique comentou: "Mas se acontecer de não cruzarem a linha de chegada dentro do tempo, saibam que desde já, são motivo de orgulho para todos nós!!!" Sei que isso não vai acontecer e que você e todos os demais Baleias vão completar dentro do tempo limite.
Grande abraço e sucesso sempre.
PS: ah, que incentivo o Gilmar Farias deu a vocês heim? "Se o avião não cair no Atlântico, a Comrades vai ser fichinha." Que coisa heim? kkkkkk
Abraço e até 08/07 no RIO.
tutta/BALEIAS/PR
www.correndocorridas.blogspot.com
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