MAIS PÁGINAS BALEIAS!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

MARATONA DO SURINAME - BALEIAS EM PARAMARIBO!! - Uma agradável surpresa na 9ª etapa do Desafio Sul-Americano!


































Caros amigos.

Ligeiramente atrasado porque a prova foi em 20 de novembro de 2010, trago a vocês a aventura Baleias na Maratona do Suriname, a antiga Guiana Holandesa.

Miguel Delgado e Wuneni Arantes desbravando um país pouco conhecido e que tem o holandês como língua oficial. Mas todo mundo fala além do holandês, o inglês e o taki-taki, todo mundo, claro, menos eu e o Wu que lutamos com o português do interior das Minas Gerais.

Essa foi nossa 9ª maratona do Desafio Sul-Americano e a 11ª no ano. E era uma incôgnita para nós. Todos os amigos em Curitiba e eu e Wu no Suriname, impossível não dizer que dúvidas sobre se a decisão era acertada pairavam sobre nossas cabeças. Mas o Desafio Sul-Americano estava lançado e precisava ser cumprido.

Quinze dias antes tinhamos sofrido bastante para completar a Maratona de Bogotá, a 2.600 m de altitude, eu com 5.30 hs. e Wu em 5.50 e essa do Suriname tinha o tempo limite de 5 horas, com temperatura anunciada entre 29 e 31 graus. 

Nada que nos assustasse porque nossa cabeça funciona como um computador. É só alimentar os dados de tempo limite e temperatura e seguir. Em Bogotá a informação de 6 horas de limite nos derrubou.

Para chegar em Paramaribo saímos de Belo Horizonte para Belém com conexão em Brasília. Em Belém,  na madrugada, pegamos o avião da Surinam Airways. Tudo comprado na internet, sem furo.

Uma curiosidade que até agora não entendi. Em Belém, a Polícia Federal carimbou nosso passaporte, na ida e na volta. Agora eu e Wu temos também o carimbo do Brasil. Já conferi com alguns amigos e não achei ainda quem tem. Vai ver eles acharam o Wu com cara de estrangeiro e fui a reboque.
 
O piloto tentou descer em Paramaribo duas vezes e teve que arremeter. Aprendi a observar o movimento das asas aumentando e diminuindo para pousar e para voltar a voar, um barato. Com isso tivemos que descer em outra cidade, Cayena, e ficar lá parado por um pouco mais de uma hora, no calor do avião, aguardando o tempo abrir em Paramaribo. E tudo isso tendo que advinhar as informações passadas em holandês e inglês no sistema de som. Wu nem percebeu, dormiu o tempo todo. Meio irritante isso.
Mas chegamos. Depois de uma saga. Vocês não imaginam o calor que faz dentro desse avião.
Mas a viagem foi muito interessante. Primeiro porque adoro quando dá problema na aterrisagem e decolagem. Gosto muito dessa confusão. Segundo porque fui escolhido para responder uma pesquisa (em português) e já ganhei uma caneta. Um brindezinho mexe comigo.

Ao meu lado viajava um brasileiro que iria garimpar ilegalmente no Suriname durante um ano,deixando no Piauí dois filhos de 8 e 10 anos. Pensei em Marcelinho, meu caçula, e meu coração apertou. Mas pensei também que o Brasil ainda precisa melhorar muito para dar condições a esses brasileiros  que vão se sujeitar a condições análogas à escravidão onde sequer sabem se são bem vindos. 

O companheiro de assento me dizia que em sua terra o único trabalho que existe é a derrubada e mesmo assim não tem sempre. Em seu passaporte estava anotado "não alfabetizado". Eu preenchi para ele o papel da imigração, embora ele não tivesse qualquer dado sobre onde iria ficar.

Na chegada, os vários brasileiros nessa situação, de repente, sumiram da fila da imigração.

Recebemos nosso carimbo do Suriname e tiramos as notas do dolar surinamês na máquina eletrônica diretamente de nossas contas correntes. A experiência de Miguel e Wu só aumentando. Aprendemos que essa forma de câmbio é a melhor.
Na hora que procurávamos o transporte vimos a placa acima. Felicidade extrema. Vocês não imaginam como gostamos de uma plaquinha em aeroporto. Parece que eles tem a mesma dificuldade com o português como eu tenho com o holandês. Quase que ficou Delgordo. Wu era felicidade só porque tinha o nome em primeiro lugar na placa. Infantil ele!
E as surpresas começaram. Nossa primeira experiência com o carro de volante errado.
O aeroporto fica a 54 km do centro. E o tempo todo com o cara só tirando fino dos outros carros que trafegavam na pista errada. Todo mundo errado e o negócio seguia bem!
Chegamos em nossa pousada e começamos a passear. Um foto para demonstrar como seria difícil entender as coisas ali. O final parece Ministério das obras públicas, né?
Wu se recusou a sair na foto da filial brasileira da fé. Mas eu quis registrar porque li na placa que eles também tem sede mundial.
Na tarde de sexta, o Congresso da Maratona, igual ao da Maratona de Foz do Iguaçu com um detalhe diferente: ficamos lá quase duas horas e não entendemos nenhuma palavra sequer. Mas nem uma mesmo.
Tiramos uma foto com o organizador Mr. Kein, com quem me correspondi via email, muito simpático e que domina o português. Gentilmente ele fez questão que sua família estivesse na foto.
Um ótimo jantar de massas.
A bolsa do kit que veio cheia de produtos alimentícios e outras gracinhas. A maratona faz parte das comemorações da semana da independência e teve festa da cidade durante todos os dias em que estivemos lá. De acordo com as informações, no final de semana seguinte é que seria a festa maior.
A residência do presidente. De acordo com as informações que colhemos o Suriname atualmente é uma democracia. A segurança é total, não sentimos um problema sequer e sempre fomos avisados de que poderíamos ficar absolutamente tranquilos. E isso ocorreu.
Passeando pela cidade sempre registramos quando encontramos os colegas do exterior. Esse colega aí parece que canta também.
O prédio de uma Mesquita. Novidade para nós. Uma curiosidade da cidade é que essa Mesquita divide o estacionamento com a Sinagoga que fica ao lado. 
O calor na cidade é incrível, beira o insuportável. Mesmo assim preferi não tomar o refrigerante que o Wu tomou. O nome me deixou sem vontade.

Como a maratona era sábado 17.30, nossa primeira maratona que não pela manhã, não rodamos muito porque não teríamos a noite para recuperar. Voltamos para o hotel às 13:00 e ficamos deitado até a hora de sair às 16:00. 

Antes vivemos momentos de constrangimento. A vazelina líquida que levo para usar nas coxas, para não assar, vazou toda na viagem. Precisava então comprar no supermercado, em holandês. Depois de fazer vários gestos eu e Wu conseguimos que o pessoal entendesse e com isso compramos, mas ficamos com nosso nome meio manchado no supermercado pelo produto comprado. Como explicar em holandês que era para usar na maratona?
Ficamos prontos e fomos em busca de mais uma maratona para nosso currículo. Essa era especial porque no local mais diferente e inusitado que corremos até hoje.
Pensamos que era o carro da organização para nos buscar. Limusine de Hammer. Nunca tinha visto e lá vimos duas.
Encontramos na concentração com atletas da Força Aérea do Equador. Como já disse, depois da Maratona de Quito, consideramos todos os equatorianos nossos amigos. E eles ganharam a prova, 1º e 3º lugares.
Antes da prova eles nos pesam.
Essa pesagem, data venia, é muito relativa porque a ingestão de líquido antes, durante e depois é tanta que não pode dar um panorama correto do peso.
E o maior show da Maratona do Suriname: o Guarda-volumes. Fica lá, sem anotação, sem controle, sem vigias. Fomos na primeira pessoa da organização que encontramos e perguntamos se era assim mesmo. Perguntamos é um modo de dizer porque ninguém entendia nada e vice-versa. Mas era isso mesmo. Coloca lá e deixa.
Na volta, nosso embornal com a máquina fotográfica do Wu tava lá, num saquinho. Tudo correto. Dá-lhe Suriname. Precisamos aprender com eles a confiar nos outros e, principalmente, aprender a honrar essa confiança.

Como não tinhámos entendido nada no Congresso Técnico, fomos conhecendo as características do percurso apenas quando chegavamos em cima da tal característica. Seguimos por um percurso de 10 e pouco kms e depois voltamos, para fazê-lo novamente. Essa configuração do percurso foi melhor do que esperávamos. Em Bogotá nos tinham dito que seriam 4 voltas.

O calor até os 10 kms nos fez achar que não daria para completar. Estávamos juntos até o km 7 e Wu dizia que não daria para fazer. Mas com a chegada da noite, a partir dos 10 kms, a panela de pressão, parece, foi desligada, e continuou quente, mas sem a sauna. Wu disparou. Eu fiquei na minha, com receio do que viria.

Tinha água em todos os quilômetros. Pegava uma garrafa para beber e jogava outra na cabeça.

Todo mundo muito simpático nas calçadas, casas e lojas. A prova sai da praça mais importante da cidade mas vai para um bairro, não havendo muito o que se ver da parte histórica da cidade. Só o final é que é na mesma praça da saída. Mas tirando o clima da natureza que é de arregaçar, o clima das pessoas é muito receptivo. É bom estar lá.

No km 37 estava me sentido muito bem e avistei Wu lá na frente. Pensei logo, no 38 pego, o que vou fazer?

E aí propus o armistício. Propus chegarmos juntos empunhando a bandeira do Brasil que me acompanhou por todas as provas Sul-Americanas (com exceção de Buenos Aires que esqueci e Alécio, maratonista de Aracaju, me emprestou a dele). O limite do tempo estava próximo, mas chegamos em 4.50 hs, mantendo 100% de aproveitamento dentro dos limites de tempo impostos pelas maratonas.

Depois anos correndo na companhia de Wu e seria aquela a primeira vez que chegaríamos juntos numa maratona. Numa prova de 10 km em BH, em 2004, exageramos tanto na sexta que as circunstâncias nos levaram a arrastar juntos até a linha de chegada no domingo. Mas nas maratonas nossa disputa era  fidagal.

Wu concordou. Seguimos para terminar no tempo e felizes com a superação da diferença de Bogotá, dias antes. Foram tiradas várias fotos de nossa chegada que tentei resgastar com meus contatos no Suriname. Não consegui e acabei descobrindo que não sou tão forte no Suriname quanto pensava.
 
Eis o resultado. Mesmo tempo, mas um capricho da tecnologia colocou Wu na minha frente. 
Resgatada a máquina de Wu no guarda-volumes self-service do Suriname, voltamos aos registros para o blog. Acima os amigos da Guiana Francesa, terra de duas maratonas anuais. A Guiana Francesa não estava em nosso desafio porque não se trata de um país sul-americano, mas de uma colônia ultramarina da França. 
Na chegada encontramos Rinaldo, militar surinamês que fez curso no Rio de Janeiro na década de 80 e ficou conversando conosco por um grande tempo. Tinha vindo jovem para o Rio e segundo seu relato foi feliz. Foi muito boa a conversa. Falamos com ele  que se tivesse fazendo esse curso atualmente no Rio não escaparia de conhecer Jorge Maratonista, também militar, embora da Força Aérea, e grande amigo Baleias.
Terminada a prova, devidamente medalhados e cansados prá caramba, voltamos para nosso canto, ou seja, nosso restaurante, ao lado do hotel, onde comemos panqueca todos os dias porque era a única coisa que dava para identificar no cardápio. Nesse momento pensamos: os amigos já estão dormindo para a maratona de Curitiba.
No domingo acordamos tarde, muito tarde e fomos logo almoçar, as mesmas panquecas. De lá liguei para Júlio Cordeiro, que sempre reune em torno de si o nossos melhores amigos. E não errei. Com ele estavam Tinil, Ênio Akio, Cláudio Dundes e outros. Conversei com todos. Uma festa de comunicação internacional. Fiquei feliz demais de saber que Cláudio Dundes havia concluído a maratona, escoltado por Ênio-SP, conhecido como o que já de melhor na equipe Baleias.

No resto do domingo passei um grande tempo colocando bandeirinhas nos blogs dos amigos. Como não sabia quem tinha o contador entrei em blog que não acaba mais!
Depois começamos a passear com força. Rodamos tudo que ainda não havíamos rodado.
Centro histórico tombado pela Unesco. Nada mais Baleias! Um dia vamos tirar uma foto nessa Unesco. Pessoal gente boa esse!!!
As casas do centro de Paramaribo são de madeira. É tudo muito bonito. E, fora o calor que não dá ânimo para passear, passear é muito bom.
Tem mais de uma dessas. Muito parecidas.
A catedral, sempre uma visita Baleias. Toda de madeira. Muito bonita. Aguardamos o caminhão sair por meia hora, mas o danado nem se moveu.
Tudo madeira. Lindo. Teve um casamento lá no dia anterior.
Essa foto é do castelo Zeeland onde todo tipo de atrocidade foi feita durante muitos anos. Fiz essa foto pensando em Gilmar, amigo de fé, do blog Foto Corrida, não pelas atrocidades, claro, mas pela plástica. Olha que nem conhecia o cara pessoalmente ainda. Procurei fazer um enquadramento correto, com os canhões, a estátua e o castelo ao fundo. Gilmar é um exemplo para quem corre, para quem fotografa e para quem quer um amigo.
Agora foi a minha vez de encontrar outro colega de profissão, também meio Pavarotti. Parece que é comum lá.
Esses tamancos são tradicionais lá. Não consegui perceber o contexto, mas um tamanco desse tamanho é sempre uma coisa Baleias. Falta uma corrida em Itu!
Agitamos na festa do domigo. Eu e Wu somos muito bons em festa. Não importa o ritmo.
Alegria sem limite. E uma grande satisfação por estar lá. Recebidos como convidados em todos os locais.
Nossa amizade a cada momento mais fortalecida. Essa minha bermuda tive que comprar lá porque o calor ia detonar a única calça que levei. Aproveitamos a festa até acabar, mas acaba muito mais cedo do que estamos acostumados.
Segunda-feira, dia de homenagem aos heróis nacionais mortos. Achei nossa bandeira a meio pau e cliquei.
Novamente Gilmar. Coloquei a ponte no meio dos coqueiros. Poderia ser melhor, eu sei, mas e a intenção? Nada vale? Se eu já tivesse conhecido o Gilmar, como na Corrida do Galinho, só tinha ele nesse relato. Tô procurando um meio de pagar tudo o que ele fez por mim.
Esse foto, ainda do álbum do Gilmar, pedi a Wu para fazer. Miguel Delgado refletindo sobre as verdades da vida às margens do rio Suriname, com a bela ponte ao fundo. Lembrei-me de "O pensador de Rodin". Claro que eu estou de roupa e menos concentrado, mas que a foto ficou bonita, isso ficou. E as folhas acima, na moldura? Pô, Wu arrebentou!
E o Suriname river, numa visão da ponte que mostrei na foto anterior.
Depois fomos com um motorista de taxi que o Wu negociou. Ele falando português e o taxista em holandês.  Claro que terminamos brigados, não eu e Wu, mas nós e o taxista, que queria o dobro e Wu insistia que só tinha combinado a metade. Clima ruim, saímos de fininho.

No bairro brasileiro foi muito legal, falamos e ouvimos nossa língua e nos sentimos muito bem.  Nesse restaurante a brasileira ofereceu buchada de bode e outras coisas do estilo. Mas nosso horário estava terminando e também nunca comemos essas coisas leves. Não seria no Suriname nossa estreia, mas a lembrança dos amigos da região dava o tom.
Passeando na praça e vendo uma aula de desenho com o modelo à frente. Baleias sempre foi cultura. Observamos. Tirei Wu de lá senão a professora havia de querê-lo como modelo vivo. 
E encontramos em Paramaribo cadeiras Baleias da Nova Shin! Mas nos livramos de ter que prestigiar o produto nacional porque nossa máxima é só utilizar produtos nativos.
O por-do-sol  no Suriname river, quase na hora de ir embora. Wu arrebentando na felicidade. Nossas viagens e nosso 2010 foram inigualáveis. E agora, já que esse relato foi tão demorado, seremos ultra e com isso faremos ultra viagens, com ultra alegrias e ultra satisfações. A questão o hífem teria que olhar  a regra nova e ia atrasar mais colocar o relato.
O registro final. Wu a camiinho de nosso SurinanAirways.

Paramaribo é uma bela cidade. Já recebemos o convite de voltar lá em 2011. Não devemos ir porque vamos a Havana, mas posso dizer a vocês do mundo que corre e do mundo Baleias: se me chamarem para voltar a Paramaribo, estou pronto.

Quero agora conhecer o mundo mais diferente. Quero ir onde as pessoas normalmente não pensam em ir. Posso ir a Viena e Estocolmo, mas quero ir à Mongólia e ao Uzbequistão, onde nasceu o cara que deu seu nome aos algarismos.

Estamos, eu e Wu e toda a Equipe Baleias e também todos os amigos Baleias, convidados para uma maratona no Vietnam em 2012. Coisa de diretoria e na hora que confirmar vou colocar fogo em todo mundo. 

Porque é bom demais estar onde gostam da gente.

Se querem saber se vale a pena correr a Maratona do Suriname, digo: se você só pensa em multidão não será o caso, mas se você pena em conhecer uma cultura completamente diferente, de um povo educado e gentil, pode ir. É quente prá caramba, um calor que inviabiliza o dia a dia, mas se você pensar que eles vivem assim; porque não a gente também?

Em relação à performance, são poucos os corredores na maratona, mas tem muita gente na meia e nos revezamentos. A festa é perfeita.

A sensação que o Suriname e Paramaribo me deixou é a que estarei lá de novo, logo que Wu topar ou outro amigo der ideia.

Abraço a todos. 

Miguel Delgrodo e Wuneni Orates.