2011 preciptou-se. Havia prometido que depois da São Silvestre apresentaria Meire, maratonista de BH que tem levado o Manto Coral aos pódios. Mas ela é fora de série e, perdoando-me, autorizou a trazer mais um relato antes de sua apresentação. Sou o redator mais em débito no mundo, mas em débito com os amigos que gostam de mim, então, tudo administrado com um sorriso.
O presente relato demorou e já teve várias versões porque nunca ficava satisfeito com o tom dado ao que vivi no final de semana da Ultramaratona de aniversário do Ricardo Galinho, novo velho amigo de outras encarnações conquistado em Caracas. E depois da gentileza de Gilmar Farias no relato em seu blog, o que dizer?
O presente relato demorou e já teve várias versões porque nunca ficava satisfeito com o tom dado ao que vivi no final de semana da Ultramaratona de aniversário do Ricardo Galinho, novo velho amigo de outras encarnações conquistado em Caracas. E depois da gentileza de Gilmar Farias no relato em seu blog, o que dizer?
A sensação que precisava passar me obrigava a começar o relato com a frase: "No dia 15 de agosto de 1963 eu nasci em Juiz de Fora." .... Porém, o recuo era demasiado e tudo ficava longo, explicativo e chato.
Mas eu preciso explicar. Desde o final da Corrida do Galinho no dia 15 de janeiro de 2011 sou outro corredor, mudei. E para minha satisfação, parece que vou conseguir levar meu inestimável Wu comigo nos novos planos.
Recife, terra abençoada que conheci o ano passado graças ao convite de meu amigo Júlio Cordeiro, é sempre destino dos sonhos Baleias. Lá tem a Acorja que nos inspira e tem também Júlio Cordeiro em quem me espelho. E desde Caracas tem Ricardo Ramos, o Galinho, a prova viva de que tivemos outras vidas, o homem que furou fila onde tinha até mineiro inscrito!
Recife que agora tem para nós também Laura e Gilmar Farias, o cara!
Em 27 de novembro de 2010, iria visitar Paulo Picanha, amigo de fé e companheiro Baleias das maratonas mais exóticas que podem haver. Paulo gosta de correr maratonas como nenhum outro e uma ideia significa uma concordância. Onde ir é irrelevante se lá tem uma maratona. Mas uma festa da escola do meu filho Marcelinho, razão de minha existência, impediu o comparecimento. Fiquei com um bilhete para Recife, o que já me deixou aliviado pela perspectiva.
No aeroporto de Caracas, no momento dos amigos da Acorja voltarem para Recife, Almir e Paulo Sobral me convidaram para correr a corrida do Galinho em 15 de janeiro. Quem me conhece sabe, quem ainda não me conhece, fique atento, se me convidar saiba que o risco d´eu aparecer é grande.
Fiquei com aquilo na cabeça a partir dali e como tinha a passagem e ainda queria visitar Paulo Picanha o tema não saiu de mim. Com isso decidi ir prestigiar o grande
Galinho, rever os amigos, especialmente, Júlio Cordeiro e conhecer pessoalmente Gilmar
Farias, que sempre tem ideias e orientações para nós da Equipe Baleias.
Perdi a companhia de Marcelinho, meu filho, que ardeu em febre na véspera. Mas como estava sob os cuidados firmes da mãe e me liberou não justificava perder, novamente, a viagem. De outro lado, como conversei com Marcelinho, ficaríamos com uma passagem em aberto para Recife e, com isso, a certeza de que iríamos lá novamente, em breve. Agora já definido, na Maratona Maurício de Nassau em 01 de maio de 2011.
Cheguei em Recife na madrugada de quinta para sexta, nos meados de janeiro, já feliz só por estar lá e vi entre os que esperavam os viajantes uma fisionomia que não me escapava. Gilmar Farias sofria com a madrugada e o atraso para, gentilmente, me esperar.
Escudado em minha coerência, prudência, reserva e comedimento resumo em uma palavra o que significou conhecer Gilmar Farias do blog Foto Corrida: apaixonei.
De quebra, recebi de presente de boas vindas o desenho de Laura, filha de Gilmar. Nunca em minha vida fiquei tão feliz em ser retratado por uma criança. Laura me viu magro! Só os parentes e os inimigos têm prazer em nos demonstrar GG. A camisa Baleias de Laura já foi encomendada à Central Baleias de Manufaturas!
Gilmar, gentil, não me perguntou sobre quantos quilômetros eu pretendia correr. Eu também não sabia naquele momento, mas a atenção e gentileza do amigo não me passou despercebido.
No dia seguinte fui visitar Paulo Picanha. A foto ficou tremida e não foi aprovada no padrão de qualidade Baleias. O cara é forte, está bem e tem planos audaciosos. Eu e Wu conversamos quando voltei e decidimos que estaremos junto com Paulo Picanha na primeira maratona que ele fizer depois de toda essa confusão. Será nossa homenagem ao cara que gostamos demais!
Na sexta, Júlio Cordeiro perdeu seu precioso tempo e ficou comigo parte do dia. No final da tarde foi para junto de sua família em férias e, em carinho e confiança de verdadeiro amigo, me deixou em sua casa para que eu ficasse mais próximo do famoso e cultuado Parque da Jaqueira.
Na madrugada, buscado por Ricardo Ramos, Juliana Job, Victor e sua simpática Lais, seguimos para a largada da prova. Naquele momento não sabia quantos quilometros iria fazer. Ricardo Galinho havia me dito que poderia fazer o quanto quisesse, que minha presença é que era importante, não os quilômetros. Gentileza sincera de quem iria correr os 54.
A organização desse pessoal é fora de série. Acima, o Presidente Lula dá as coordenadas sobre como será o evento.
Nessa foto um momento que não entendi muito na concentração. Parece que na corrida ocorrem eventos paralelos e num desses há um concurso de "montinhos". Cada corredor que se habilitar abaixa as calças e mostra o seu montinho. Não fiquei para ver o resultado porque fiquei com mêda do prêmio!
A foto do grupo todo na largada. Mas vários corredores e corredoras iriam se integrar ao grupo em locais especificos da corrida. A festa é incrível, a organização mais ainda e a satisfação dos que correm e dos que apoiam é única. Corredores do mundo; façam uma corrida ou um treino com a Acorja. Eles são incríveis e a corrida deles é a melhor do mundo!
Esse é Paz, maratonista da Acorja e sua esposa Iranilda. Paz foi amigo firme e sincero em nossa visita em 2009. Eu o cumprimentei na largada mas depois fiquei sabendo que ele não se lembrou de mim. Gordo fica triste quando não é lembrado.
A corrida é iniciada numa festa de gritos e satisfação. Parto sem saber o quanto farei. Lembro-me de tudo o que vinha me acontecendo nos últimos dias.
O Manto Coral foi substituído pelos paramentos da Acorja em homenagem aos grandes amigos que alí me recebiam. O coração e a mente Baleias seguiam firmes em mim.
Lembrei de Elis Carvalho, orgulho Baleias, ultramaratonista, minha líder, que me disse para fazer os 54 porque estaria rodeado dos melhores amigos e isso era o caminho para o exagero de quilômetros.
Havia terminado de ler livro "Nascido para Correr" que ganhei de natal dos meus filhos e de Rose, mãe deles e minha amiga. Fiquei com a clara sensação de que se soubessem o que o livro faria comingo, não dariam. Fiquei doido. Me sentia Billy e Jean!
Segui correndo e pensando: vou até quando for possível. Se não era Forrest Gamp, Fernão Capelo Gaivota andava por lá; "longe é um lugar que não existe". Nunca experimentei tanta coisa boba passando por minha cabeça. Eu já sabia que uma pessoa feliz é sempre meio brega!
A liderança dessa cara é incrível. Embora extremamente carismático, ele é operacional também. As coisas com ele funcionam. Tenho muito o que aprender com Lula. Obrigado, meu amigo, por me receber tão bem.
Amanhecendo nas pistas da Acorja, ainda de óculos claros e sem saber para quantos kms estava ali.
Bagetti. Comradeiro, que tem tudo para nos ensinar e foi muito simpático comigo na prova.
Flávio Maia, maratonista internacional, que cuida da parte sem graça da vida do mesmo modo que eu e Wu, porém, claro, com mais capacidade. O conheci em Porto Alegre em 2009 e a identificação foi imediata. Flávio correu até os 30 kms mas apoiou os corredores com sua possante máquina e não largaria de nos apoiar se não fosse liberado lá pelos 30 e muitos.
Paulo Sobral, grande amigo e grande homem para dicas de resistência e saúde e Almir, o grande campeão da Acorja. De cabeça vermelha como Wu é grande amigo. O tempo cuidará de estreitar essa amizade que existe e é latente.
O dono da festa, sua esposa, conhecida no mundo das corridas como Juliana Job e Cez(s)inha, o ultraman da Acorja, 177 km na Ultra dos Fuzileiros Navais.
Paulo Gustavo, amigo de Recife que recebeu a Paramedalha Baleias na São Silvestre. Esteve conosco em Punta, Foz e Caracas. Um grande cara que se colocou à minha disposição em Recife durante todo o final de semana.
No amanhecer do dia ganhei a companhia de Marinês Melo, com quem havia corrido a Maratona de Caracas. Claro que em tão boa companhia poderia correr até os fins dos dias, mas mantive o caminhão Baleias de apoio porque a carroceria estava garantida com carboidratos e isotônicos.
Encontrei rapidamene com Jacqueline Barbosa, amiga Baleias, sonho do mundo que corre, comradeira de histórico e registro no blog Baleias para nossa honra, que deu um show para as lentes de Gilmar no blog Foto Corrida.
Entramos na consagrada Serras das Russas. No meu intimo, pensei: só um ingênuo para pensar que vim de Belo Horizonte para parar aqui. Exagerado como Cazuza queria todos os kms e a subida seria da Serra da Boa Esperança. Pensei: "nada me tira daqui,
vou desfilar por sobre os locais sagrados da Acorja". Não vim para
Recife para ser fraco e comum, porque não sou fraco e comum. Sou forte, surpreendente e compulsivo!!!
Perto de 30 km Flávio Maio e
Marinês Melo encerraram sua participação. Eu nunca tinha ouvido falar de
mineiro que foi para uma festa de 54 e só aproveitou 30. Segui.
Subindo a Serra das Russas, barba branca, cada vez mais velho, com entradas na testa, cabelos ralos que o sol castiga e cada vez mais feliz e intransigente em fazer, no agradável mundo que existe após o horário comercial, somente o que quer (batizados, aniversários, formaturas, tremei). Só vou se eu quiser. Alí, aos olhos do mundo normal eu era um homem louco, possuído.
No próximo ponto de apoio recebo a notícia que Marinês Melo, pódio em Caracas, voltaria a correr comigo, decidida que estava a virar ultra e que Flávio Maia encerraria o apoio com Gilmar Farias, um sonho de amigo, assumindo.
Os amigos de Recife cuidavam de mim. Fiquei muito feliz de saber que alguém correria comigo e outro cuidarida de mim. Todos foram muito gentis comigo, mas dei trabalho pelo excessivo tempo que cumpri a prova. Ia transpondo municípios, como visto nas placas.
No próximo ponto de apoio recebo a notícia que Marinês Melo, pódio em Caracas, voltaria a correr comigo, decidida que estava a virar ultra e que Flávio Maia encerraria o apoio com Gilmar Farias, um sonho de amigo, assumindo.
Os amigos de Recife cuidavam de mim. Fiquei muito feliz de saber que alguém correria comigo e outro cuidarida de mim. Todos foram muito gentis comigo, mas dei trabalho pelo excessivo tempo que cumpri a prova. Ia transpondo municípios, como visto nas placas.
Gilmar Farias coreografava a prova. Desenhava conosco as fotos e as placas. Até cruzar a pista determinou. Esse carinho me fez muito feliz.
Adoro ônibus, desde pequeno! Esse viaduto a gente vê ao longe e chegar nele é especial. Nessa etapa o tênis abriu o bico e um pedaço da borracha do calcanhar se soltou. Mais um detalhe incapaz de alterar minha certeza. Aliás, Baleias Tarahumara não esquenta muito mais com amortecimento.
Calor forte, mas nada naquele dia seria relevante. Disse a todos que seguiria até o final ou até não aguentar!
O mestre Gilmar determinou a foto embaixo da placa. Nem sabia ele que sou de Lima Duarte, terra das cascavéis. É a festa Acorja Baleias.
Fiz uma pose para homenagear minha líder Elis Maratonista, que me tornou um ultra, que corre sempre com um gatorade na mão
Gilmar mantinha a coreografia. A abnegaçao do cara é violenta. Gilmar seguiu a mim e Marinês durante todo o tempo que demoramos para cumprir o trajeto. Dissemos a ele para ir embora, porém, isso seria nossa morte.
Eu continuava, sob a orientação do Gilmar, a registrar os caminhos da Acorja.
E atingi a marca dos 50 kms.
Havia me tornado, irrediavelmente, ultramaratonista. Muito antes do previsto e sem meu Wu, o que me obrigaria a utilizar dos recursos da reengenharia para equilibrar a relação. Mas Wu é brilhante e já estabelecemos novo desafio ultra para 27 de fevereiro em Rio Grande, de novo em companhia da Acorja.
No km 53 e a alegria de correr, conversar e fazer tudo o que Gilmar solicitava. O que esse cara fez por mim no apoio marcou o coração Baleias.
A chegada nos 54. Marinês também havia se tornado ultramaratonista tendo corrido 50 kms. A gentileza da colega da Acorja que me acompanhou por quase todo o percurso foi fundamental para eu alcançar meu desiderato. Certo é que uma corrida em sua companhia nunca é um desafio, é um divertido passeio.
O Garmin não havia aguentado o tranco e encerrou sua participação na prova no km 44 com mais de seis horas de corrida. Nosso tempo final, que teve que ser estimado, ficou por volta de 8 horas. Dado, sinceramente, irrelevante para mim a não ser pelo tempo que tomamos do grande amigo Gilmar.
A medalha recebida das mãos do Presidente Lula depois de correr 54kms. Eu estava absolutamente eufórico, havia me tornado ultramaratonista em Recife, na companhia dos amigos da Acorja, como previra Elis Carvalho minha mentora na ultradistância. A partir daquele dia soube que eu posso tudo. Se treinar então...
Gilmar recebeu do Presidente Lula e do aniversariante, que em lance de gentileza impar vestia o Manto Coral, sua medalha pelo incrível apoio que deu aos corredores.
Ele fotografou e cuidou do apoio com água e gatorade e a partir da Serra das Russas cuidou de mim e Marinês. Definiu paradas, definiu locais para fotos, indicou rotas e distâncias e principalmente disse que estaria conosco até o final. E sempre com um sorriso amigo no rosto. Fiquei doido com esse cara e espero estar sempre à altura de sua amizade.
O aniversariante, uma jóia de pessoa, nosso Baleias em Recife e a primeira dama Juliana Job. Combinei com esse casal para corrermos muito e muito juntos em 2011. Seguiremos juntos em busca de mais quilômetros porque essa é nossa satisfação comum.
O casal anfitrião da Ultramaratona do Galinho também recebe sua medalha das mãos do Presidente Lula. Essa Acorja ensinando a todos como se faz uma festa bonita e para todos. Não achei foto da Marinês recebendo sua justa medalha por também ter virado ultramaratonista.
Terminada a corrida Gilmar Farias me levou de volta para Recife. Meu destino era Aldeia na casa de Júlio Cordeiro, mas não tinha cara para pedir mais alguma coisa a Gilmar que se sacrificara para permitir que eu me tornasse ultramaratonista. E também não tinha cara para ligar para o Júlio Cordeiro que estava em festa com a família para me buscar. A sensação de ser "mala" me apavora.
Voltei para o apartamento em que estava hospedado e passei minha vida de corredor na cabeça projetando também a nova vida que se inciaria. Pensei em como fazer com Wu que está com fasciite plantar mas que tem que virar ultra imediatamente. Ser ultra sem Wu me incomodava.Tracei planos.
Acordei no domingo decidido a não incomodar os amigos que já haviam se desdobrado para que eu corresse a Ultramaratona do Galinho. Julio Cordeiro, que me acolhia em seu apto, comemorava o aniversário de sua mãe e tinha toda a família consigo na casa de campo. Entendi que não havia como solicitar que me buscasse. Errei e o cara ficou chateado comigo pela ausência. Eu, que não queria incomodar, acabei incomodando com o meu silêncio e minha reclusão no domingo. Gordo é fogo, tenta acertar de um lado e acaba fazendo merda de outro. Mas espero que Júlio perdoe-me por ter tentado acertar.
Aproveitei para colocar no ar o relato da São Silvestre que andava super atrasado e esperei a hora de voltar para Belo Horizonte. A sensação de fortaleza tomou conta do meu corpo e me acompanhou naquele dia pós estreia nas ultras distâncias. Foi sublime e essa sensação não saiu mais de mim. Está cada vez mais forte e me levará a lugares nunca dantes imaginados.
Decidi naquele domigo que correria os 75 quilômetros de Bertioga-Maresias já em maio, acompanhando Elis, minha diretora de ultradistância.
A partir do dia 15 de janeiro de 2011 virei ultramaratonista e mudei o foco das corridas levando a festa Baleias para dentro da prova. Virei Baleia Tarahumara e o prazer e a satisfação de muitos quilômetros com os amigos dará o tom a partir de agora. Wu topou todos os planos e seguiremos juntos em 2011 consumindo quilômetros e mais quilômetros.
Espero nunca mais ter que fazer uma prova sozinho. Desde a Pampulha 2010 em que corri com Elis não corro mais sozinho. Em Caracas corri com Marinês, em Lagoa Santa fui na companhia de Rogério, o primo que me levou para as corridas e com quem fiz, lado a lado, as minhas duas primeiras provas. Na São Silvestre corremos vários Baleias juntos e foi estupendo. E na minha estreia nas ultras novamente tive a companhia de Marinês Melo, da Acorja do Recife.
A companhia para a próxima prova também já está garantida. Correrei em Rio Grande ao lado de Aline, a primeira maratonista Baleias, que aceitou o convite para virar ultra na minha companhia, de Wu e Meire.
Obrigado a todos os amigos da Acorja, obrigado Lula, obrigado Júlio Cordeiro, obrigado Gilmar Faria, obrigado Ricardo Galinho, obrigado Marinês Melo, obrigado Juliana Job, obrigado Paulo Picanha, obrigado Paulo Gustavo, o carinho de todos vocês antecipou um ano de minha vida. Agora estou feliz mais cedo. E muito obrigado Lula e Júlio pelo convite para Rio Grande. Com vocês eu vou aonde me chamarem.
Miguel Delgado
Baleia Tarahumara